Singularidade. Luxo. Tradição. Visitar o universo das pedras naturais é conhecer uma história milenar escrita pela própria terra.
Em tons de verde, branco e preto, o Quartzito Gaia vem da região da Bahia. Os trechos mais claros são cristais de quartzo translúcidos, característica que o torna ideal para propostas com retroiluminação. O material é texturizado — por ser escovado, permite sentir as rugosidades da pedra ao toque, uma experiência natural, prazerosa e multissensorial. Foto: Kacio Lira
“Vi um anjo no bloco de mármore e simplesmente esculpi até libertá-lo”. A frase do pintor, escultor, poeta e arquiteto italiano Michelangelo registra a sua intimidade com as pedras naturais — mais precisamente, o mármore, que dá vida a ícones de um dos maiores criadores ocidentais da história da arte. De sua autoria, a escultura Pietà, um retrato da cena bíblica em que Virgem Maria segura seu filho, Jesus Cristo, em seus braços, é considerada uma das criações mais impressionantes do período renascentista. Autor de tesouros artísticos da humanidade, como o teto da Capela Sistina, Michelangelo enxergou no mármore uma potência singular para a arte, assim como para a arquitetura.
Além de materializar obras-primas, as rochas ornamentais exibem nos cenários do cotidiano a beleza e a força intrínseca que as tornam tão marcantes. Uns dos elementos mais antigos do mundo, elas são verdadeiras joias originadas na natureza e exploradas de diferentes formas em projetos arquitetônicos — afinal, é sempre uma boa ideia enaltecer materiais tão sofisticados, atemporais e instigantes.
Como uma ode a essas criações da terra, arquitetos e designers levam esses fragmentos milenares a composições que não passam despercebidas, assim como os profissionais responsáveis pelo processo de extração, tratamento e aplicação. Para o arquiteto Tufi Mousse, “nenhum outro material traz a exclusividade que cada placa de pedra natural apresenta. É como uma árvore: nenhuma é igual a outra”. Em cada projeto, há uma parte da história da formação do planeta e dos seus fenômenos. Difícil é escolher qual é o mais belo.
A rica geodiversidade brasileira faz com que o país seja referência quando o assunto é variedade e qualidade de rochas ornamentais. Das jazidas locais são extraídas, em média, mais de nove milhões de toneladas de mármores, granitos e quartzitos por ano. A extensão das montanhas chega a atravessar regiões. As pedras, que têm origem em Tocantis, Bahia, Maranhão, Piauí, Espírito Santo, Paraná e outros estados, não deixam a desejar em relação a peças internacionais — por isso, são exportadas para todo o mundo.
Uma das fontes mais valiosas do país, a Michelangelo Mármores do Brasil começou a sua história com uma pedreira em Bocaiúva do Sul, município localizado a cerca de 40 quilômetros de Curitiba. Os irmãos Paulo e Lincoln Fleischfresser descobriram, há quase três décadas, que o solo paranaense abrigava pedras com nobre composição dolomítica — com base de carbonato de cálcio e magnésio. Essa combinação confere às rochas das jazidas da região propriedades superiores a qualquer outro mármore nacional, italiano ou grego, que são comumente formados somente com base calcária.
Hoje, a jazida na Vila do Tigre, em Cerro Azul, se destaca: é de lá que sai o Mármore Branco Michelangelo, um dos mais renomados e requisitados em projetos arquitetônicos de alto padrão. Formadas pela combinação dos minerais dolomíticos ao longo de bilhões de anos, as pedras nascidas no solo fértil do Paraná têm baixa porosidade e alta resistência. Por ser uma rocha sedimentar, diferentes minerais fazem a composição que dá origem aos veios do mármore, um dos mais antigos extraídos no país.
É o material que reveste os arcos do Palácio da Alvorada e Planalto Central, em Brasília, e a Pinacoteca de São Paulo, além de inúmeras obras modernistas dos anos 50, 60 e 70. Fora do país, as lojas da grife Gucci receberam o Napoleon Bordeaux. Em Londres, o complexo residencial e comercial One Hyde Park e as estações de trem de Berlim, na Alemanha, também têm fragmentos que carregam a beleza das pedras brasileiras.
Não é de hoje a adoração da humanidade por essas joias da natureza: as pedras naturais fazem parte da arquitetura desde a antiguidade. A Grécia Antiga e, posteriormente, o Império Romano construíram monumentos, túmulos e esculturas com diversos tipos de rocha ornamental.
Localizado em um dos sítios arquitetônicos mais icônicos do mundo, o Partenon foi erguido inteiramente em mármore há mais de dois mil anos. O templo dedicado à deusa grega Atena resiste até hoje como símbolo da força transcendental das rochas. Não à toa, recebe milhares de visitantes todos os anos.
Além da arte e da arquitetura, a história mostra que o valor cultural agregado a mármores, granitos e quartzitos equivale ao caráter ornamental: em muitas civilizações, o uso está relacionada à espiritualidade. Por isso, há quem acredite que esses elementos possuam uma energia magnetizante, seja pela sua beleza arrebatadora, seja pela força impressionante de sua essência.
Os mármores são formações rochosas mais recentes e possuem menor dureza para áreas de fluxo intenso”, conta David Kraisch, especialista e empresário no setor de pedras naturais. São rochas metamórficas originadas de calcário e expostas a altas temperaturas e pressão. Graças aos diferentes tipos de composição, há uma grande variedade de cores e texturas desses elementos, que são os mais nobres e cobiçados entre as pedras naturais.
A sua principal característica estética é possuir veios marcantes sobre um fundo leitoso e homogêneo. Por conta dos seus traços naturais, costuma aparecer em revestimentos, lareiras e outros espaços e objetos decorativos. Contudo, essa análise deve ser individual, pois há alguns tipos de mármore que podem ser aplicados em bancadas de cozinha, banheiros e áreas de alto tráfego, principalmente com novas tecnologias de impermeabilização e tratamento, como o Mármore Branco Michelangelo.
Desejados tanto na arquitetura quanto no universo das joias, quartzitos são as rochas não preciosas mais puras que existem na natureza. Possuem mais de 90% de quartzo na composição e foram constituídos há bilhões de anos na formação do planeta Terra. O fenômeno ocorre quando o magma de regiões profundas é resfriado ao se aproximar da superfície terrestre ou por meio do contato com a água que chega através de fendas — um processo geológico que leva milhares de anos.
Quando o assunto são rochas ornamentais, não há limites para a imaginação. O arquiteto Gustavo Barnabé acredita que o quartzito, assim como outras pedras naturais, é como a digital e o DNA: único.
A variedade de aplicações faz com que os elementos sejam reconhecidos, também, pela pluralidade de usos — podem estar em mobílias, fachadas, mosaicos e quaisquer outros lugares, de acordo com as suas características. “As pedras podem se tornar obras de arte, se forem bem aplicadas, como a peça principal do ambiente, sempre feitas para valorizar”, diz Gustavo.
Esteticamente, quartzitos são similares aos mármores, porém possuem mais brilhos e translucidez, de acordo com David Kraisch. Os translúcidos são chamados de cristais de quartzo. Além de serem extremamente resistentes, não possuem restrição de uso ou aplicação. Por não ser porosa, a superfície possui baixa absorção de líquidos, o que a torna vantajosa em relação a outros revestimentos.
Matéria adaptada da Revista Sua Casa
Leia a matéria completa e veja mais imagens clicando aqui.