Desvencilhando-se de qualquer padrão, Gustavo Barnabé mergulhou em referências para comprovar o que Oscar Wilde já dizia: “A vida imita a arte”. Um projeto de alto padrão com estética industrial, inspirada no seriado Friends para um amante das telas.
A campainha toca e a pessoa sai da cozinha, onde estava na companhia de amigos, e se encaminha para a porta. O elemento tem uma tonalidade roxa impactante e uma moldura em amarelo vívido em torno do olho mágico. O seu apartamento, urbano e com uma composição típica de lofts industriais dos anos 90, tem ambientes que acolhem e convidam para sentar, bebericar algum drinque e dar expressivas risadas. Essa cena pode ser comumente encontrada no seriado norte-americano Friends, de 1994. Porém, virou cotidiano em Brusque, graças ao projeto realizado pelo arquiteto Gustavo Barnabé e seu escritório, o G7 Arquitetura, para um empresário e seu filho.
Quando o lar de 360 metros quadrados foi encontrado, imediatamente as ideias saíram do papel e as referências industriais foram sendo mescladas a certas características afetivas do proprietário: em suma, o mundo das artes. Na movelaria e na decoração, coleções de cenas e personagens cinematográficos, itens garimpados do próprio seriado e peças importadas como arandelas de brechós estrangeiros estão entre os destaques.
O sofá foi desenhado exclusivamente para a área social — assim como a mesa de jantar e as cadeiras inspiradas na cozinha de Mônica Geller. Entre tantos elementos que chamam a atenção, escolher protagonistas não é fácil, como cita o arquiteto: “Só estando lá para entender e poder respirar os ambientes ao som do piano”.
A área social é o registro de uma composição única, com elementos de diferentes partes do mundo, todos selecionados a dedo pelo arquiteto e seu cliente. O sofá em veludo laranja foi desenhado pela loja Masotti e contém franjas que dão movimento e textura.
O ambiente recebeu também um painel e porta em verde, a lareira em Granito Preto Via Láctea e, claro, a valorização da arquitetura, com a estética das vigas exploradas e tijolos resgatados de uma casa centenária. Amigos, estilo e a sétima arte: todos envoltos em uma decoração personalizada, com tapete persa e iluminação cenográfica.
PONTOS-CHAVE:
• Apreciador de boas músicas, o proprietário recebeu um escritório que une a sua estação de trabalho com o seu acervo de violões — expostos em um espaço de destaque e com iluminação direcionada.
• A estante projetada cobre uma boa parte do ambiente e foi produzida para abrigar as coleções de super-heróis, vilões e outras figuras caricatas do cinema mundial. A iluminação do elemento é diferenciada e sua estética anda em consonância com o forro personalizado e seus rasgos imponentes.
• A poltrona PP19 Papa Bear, de H. J Wegner, o tapete de pele e o batmóvel no décor fazem o cantinho perfeito para os minutos de descanso entre o período de trabalho ou para estimular o conforto das horas de leituras.
Em um projeto que tem alma artística, a quarta não poderia ficar de fora! Por isso, o piano de cauda black é o protagonista do espaço que mexe com a estética e com os sentidos. A lareira a gás possui cristais Azul Calvert e porcelanato Laca Black na superfície — materiais que causam um efeito despojado e uma sofisticação assertiva pela naturalidade e pela pureza.
A poltrona Charles Eames auxilia no cenário musical que conta com bar, um projeto luminotécnico industrial e a exposição da cena do famoso filme Jurassic Park.
No espaço onde deliciosos pratos serão executados, os móveis foram dispostos para que criassem a impressão de serem grandes volumes que demarcam os ambientes. Como o local é amplo, o arquiteto optou por quebrar a continuidade de revestimentos, incorporando diferentes cores e texturas na proposta — que já contém o teto e as colunas em concreto aparente.
As persianas em madeira trazem o ar de aconchego e dialogam com o amadeirado da bancada lateral de apoio, e tendo a bancada da cozinha toda em Corian trazendo modernidade ao local. O layout do apartamento permite que o anfitrião esteja na cozinha sem perder minutos da sua série ou filme, já que a TV está estrategicamente direcionada para a área das refeições.
A composição resgatou uma paleta de cores que se conectam, interligando os ambientes através da criatividade e da ousadia. Como o apartamento tem o mundo artístico à flor da pele, elementos lúdicos participam da decoração constantemente, como os quadros de bandas, obras do artista Bryan Behr e a camisa do ator Arnold Schwarzenegger assinada e emoldurada.
O arquiteto teve um olhar apurado para o luminotécnico e superou as expectativas com a iluminação digna de filmes hollywoodianos. Portas e rodapés foram destacados em laca preta acetinada e conferem requinte.
Na suíte master, o objetivo foi torná-la um ambiente masculino, como um retiro para o proprietário. Elementos naturais foram os escolhidos para dar o aconchego, auxiliar na sofisticação e manter a estética tão querida pelo cliente: o ferro, a pedra escovada, a madeira e o vidro aramado criam o pano de fundo rústico.
A cama, desenhada pelo escritório, é toda planejada em couro e recebeu apoio nas laterais. A poltrona Charles Eames Otomani e a sobreposição de tapetes imprimem harmonia, introspecção e conforto.
Garantindo o aquecimento nas estações frias, o piso aquecido e a lareira a álcool foram eleitos para a suíte master. A composição também deu vida a um teto personalizado em frade de ferro,
iluminação embutida e espelhos flutuantes. Integrado ao quarto, o banheiro segue a mesma narrativa que harmoniza conceitos estéticos e hospitalidade.
Para que os hóspedes sintam-se em casa, uma paleta de cores refinada, calma e discreta foi selecionada. Junto da obra de arte de Orlandi, a decoração tem o papel de ser receptiva, como um convite para que as visitas tornem a voltar. As mesas e a cabeceira são monocromáticas e foram arrebatadas pelas luminárias que criam um cenário feito para relaxar.
DETALHANDO
1. A mesa com diferentes tipos de cadeira e o fundo roxo tornam o ambiente ainda mais parecido com o cenário da série norte-americana. Já a iluminação da área social foi planejada em eletrocalha aparente.
2. Um espaço com inúmeras possibilidades: integrado à cozinha, o ambiente possui folhagens e é uma página em branco, onde o proprietário pode decorá-lo futuramente.
3. A sala de cinema recebeu uma marcenaria e serralheria que impactam. A estante amarela, por exemplo, é o xodó do espaço e transforma os ares com o contraste no ripado escuro do home theater.
4. Obras de arte foram distribuídas como em galerias, resultando em um décor personalizado e cheio de significados.
5. Poltronas grandes e aconchegantes compõem o espaço de cinema, feitas para os moradores poderem se esparramar e assistir seus episódios favoritos. No projeto, um sistema com tecnologia avançada foi o escolhido — afinal, para quem é fã, a experiência deve ser sempre a melhor possível.
Fotos: Karina Presoto